domingo, 3 de agosto de 2008

Bandida assustada

Bandida, tres vezes bandida,
de sangue quente...
Te vejo, te quero, me atrevo.
Mas tem um vago outro lado,
lado escondido de mim,
lado quieto, não falante,
lado somente pensante,
murmurante, balbuciante,
o lodaçal, pantanal,
os portões do meu umbral,
lá mesmo, onde se escondem
as dores, os malefícios,
a culpa, o medo, o mal.
Lado sabido e negado,
exorcizado, esquecido,
e nunca compreendido.
Quando, bandida, te ataco,
exponho o meu lado fraco,
exponho minha carência,
sem um pingo de decência...
Me use, mas não abuse:
sou a menina assustada,
que ainda acredita em fada,
e gosta de chocolate.
Me ate, mas não maltrate...

Viver dá trabalho

Não pense voce que vai ser fácil
mudar de opinião a toda hora,
sofrer inúmeros desenganos,
exercitando-se como ser humano.
Essas mudançaas de humores
vão demandar muitos suores,
muitas batidas de porta,
pulsares da veia aorta,
sapatos de solados gastos...
Ver as consequencias dos seus atos.
Tem que ter muito de artista,
ser um tipo de humorista,
de humor ácido, vermelho,
para nunca perder de vista
um amigo, um bom conselho.
Tem que saber a mudança das horas,
ouvir os guizos do coração,
controlar o torcer e retorcer das mãos,
sentindo, lá no fundo, o que só voce sente,
sendo igual, tornar-se diferente,
uma constante adaptação...
Atenção ao ato falho,
que entrega a sua intenção.
Viver dá muito trabalho...

Meu menino

Meu menino, a quantas andas?
Meu menino, com quem desandas?
Seu corpo é meu confidente.
É ele que fala, que cala,
que sempre me surpreende.
É ele que anda trotado, sincopado,
como se houvesse na ponta dos pés
uma súbita fuga preparada,
pronta a qualquer emergência,
uma fuga de urgência,
atropelada.
Quando ele anda, balançam
os fios desarrumados, espalhados,
pela nuca, pela testa,pelos lados,
diante dos meus olhos, maravilhados.
Quando ele para, não para,
simplesmente.
Ele estaca, de repente,
à espreita, à escuta,
sempre tenso, sempre o tal,
e nunca, nunca, banal...
É sempre aquele grande animal...
Sempre alerta, característico,
sempre sensual.
Sua postura acesa
lhe dá esse ar de presa,
de arco retesado,
de aprisionado vôo de flecha.
Meu menino, você me interessa.
Por você eu tenho pressa,
e continuamente mudo de direção,
como um navio acertando a rota,
pelo seu olhar acuado, acelerado,
meu menino calado,
e, mais que tudo,
por seu andar sincopado...

quarta-feira, 2 de julho de 2008

O amor universal precisa...


Morte não existe em nossos corpos compostos.
Apenas desintegração de uma mistura.
É quimica pura,
facilmente demostravel.
É movimento, e o que se move
tem vida própria.
Em nosso mundo, tudo se move
e nada demove, em mim, a crença
que a vida vença
em outro plano, sem a matéria,
de outra forma, bem mais etérea.
Porque o amor universal precisa
das coisas do querer.
O amor universal e seu poder
que submete o querer
à força imperativa do viver.
Por enquanto, somos matéria,
esta mistura fugaz.
Simplesmente dobramos os joelhos,
sem determinação sobre as coisas do amor
universal.
Só temos o nosso querer,
rosas vermelhas, andorinhas migratorias,
plenas de utilidade ao amor universal.
Rosas vermelhas que não podem fenecer.
E, por isso, porque não somos anjos, mas humanos,
não convivemos com os deuses,
mas com as pulsões e reações
do nosso inconsciente,
e dos ritos cabalísticos de nossas tribos.
Mas eu, insubmissa, quero mudar,
dominar, direcionar,
o meu proprio querer:
quero que floresça, e cresça,
que seja um lume, e o perfume de suas rubras rosas
ilumine o meu viver individual,
servindo, sempre, ao amor universal.

O prêmio principal

O que é que voce faria
se acertasse o premio principal?
O que voce mudaria,
para o bem e para o mal?
Para onde voce iria,
onde é que ficaria
seu paraiso particular?
Em que ilha, em que lugar?
Que planos voce teria,
quem levaria consigo?
Um cão, um gato, um amigo?
Ou seria voce e seu corpo,
até que restasse morto?
E ao fim de uns dez anos
teria valido a pena?
Ou a nova forma de vida
seria, ainda, pouca, pequena?
O tempo é misterioso,
tem a própria dimensão...
Trabalha a nosso favor?
Às vezes, sim;`as vezes, não...
Ter um sonho, mais além,
nos encoraja e ilude
a alma cresce, aparece
uma sensação de plenitude.
É um perde-ganha sem fim.
Pode ser bom e ruim.
Diante do que se alcança
a satisfação interna
nos devolve a sensação
de ser, de novo, criança?
O que nos terá ensinado
poder comprar a beleza,
viajar o mundo afora,
ou ajudar quem se ama?
Poderíamos esquecer
tudo o que nos fez sofrer?
Ao morrer, apaziguados,
poderíamos dizer:
-Tive tudo o que quiz
e fui muito, muito feliz?
Eu queria que o prêmio principal
me trouxesse mais sabedoria
(eu sei que é impossivel),
mas é o que gostaria.
Um coração mais puro,
e muito, muito mais leve,
bombeando meus passos
nesta vida breve, breve.

domingo, 22 de junho de 2008

Urbanidades

Na grande cidade
não medra a ternura.
Na cidade grande
só medra o concreto
das gentes, estrutura.
Lá não mais existem
pomares, quintais.
Perdidos no tempo
e enclausurados
atrás dos portais,
os homens, estranhos
textura de pedra,
da cor dos vitrais.
E são coloridos,
e bem embalados,
com muitos requintes,
play-grounds, piscinas,
em seus edifícios,
e, no entanto, banais.
Carentes de agreste,
de pouca comida,
de um certo mutismo,
das coisas do mato,
fundamentais...
São seres alheios
à rede, à calma,
não sabem da vida
o gosto, o sabor,
e montam e galopam
estranhos corcéis,
corcéis a motor.
Viajam, se agitam,
e morrem de câncer,
infartam mais cêdo,
e fumam e bebem,
só um ou dois filhos,
que muitos, jamais.
Não há mais espaço,
em seus corações,
tão cheios de pressa...
Cidade de pedra,
a boca do inferno,
que a todos mastiga
sem nem devolver
bagaço, restante,
de ti quero paz.

Sem esconderijos

É um certo modo de fazer
que nos destaca.
É um certo modo de dizer
que nos conforta.
É um certo modo de ser
que abre portas.
Cheia de explicação e de razão,
cedo à intuição, e à emoção.
(E não me arrependo).
Finalmente, compreendo.
Refém de mim mesma
tento de me ver "de fora",
(somente o aqui e ao agora).
Cada um vive como quer.
Cada um vive, se quizer.
Cara a cara com a violência
tento ter a decência
de não me esconder.
Minha escolha é viver.

Vinho preferido

Foi no rastro da minha sombra
que você me descobriu.
Foi no escuro da minha treva
que você me seguiu.
Você, inspiração da minha trova,
criação da minha carência.
Você, que experimentei e saboreei,
provei e aprovei,
no reino dos meus sentidos,
desfalecidos...
Você, meu melhor banquete,
meu vinho preferido,
namorado mais querido...

Lição de Deus


A mesa posta na sala,
cheiro forte de café,
o movimento do dia,
longos passeios a pé´
a aragem, ventania,
tudo é certo como é:
a chuva que desce forte,
o sol que queima, a poeira,
o campo, o verde, a boiada,
o espírito da terra,
seu soturno interior.
Tudo isto não tem preço,
tudo isto tem valor.
O homem senta na pedra,
cansado dia de luta.
Desde o tempo da caverna,
eterna e mesma labuta.
Isto tem dignidade,
é como um canto de fé,
o seu trabalho, coragem,
é mais que sobrevivência,
é lição de Deus, paciência,
legado do Seu amor.

sábado, 14 de junho de 2008

Muda, mundo

Muda, mundo.
Pressente o novo milenio.
Produz uma nova raça
consciente da propria imortalidade,
mais expressiva, solidária, inteligente,
dona de si mesma, da sua intimidade.
Fabrica novas possibilidades
de entradas e saídas
das dimensões conhecidas.
Sob a proteção do fluxo dos mares,
enche de novos seres todos os lugares.
Já que nada fica de nada,
possamos, por um breve momento,
(o momento da duração de uma vida),
conhecer e entender o novo,
recriado em cada ovo.
Muda, mundo, e mudando,
deixa-nos mudos.
Afasta as trivialidades
enervantes, miudinhas,
e cala os telefones,
para ouvirmos, com as estrelas,
o silencio dos monges.
Atua de tal maneira
que as espécies, recriadas,
sejam melhores, e dotadas
de outros e novos sentidos,
aflorados do inconsciente.
Atualmente,
somos mamiferos inteligentes
de sangue quente,
(como os golfinhos).
Somos pequenininhos...
Muda, mundo, e mudando,
deixa-nos mudos.
(O que nos fará crescer internamente).

Eu quero

Quando é que você vai tomar coragem
e me falar um monte de bobagens?
Quando é que você vai perder o mêdo
e vai me chamar para ver o sol nascer mais cêdo?
Quando é que você vai sair da "sua'"
e vai me chamar para ver a lua?
A rua? Sua alma nua?
Eu estou impaciente
com esse seu tempo lento
sua paranóia perante novos amores,
odores, tremores...
Eu quero depressa, de noite, de novo,
eu quero correndo, sabendo
de tudo.Eu quero lhe deixar mudo...
Meu doce amor, meu nenen, meu bem...
Meu indeciso querer,
meu narciso, pronto para colhêr.
Eu quero apenas lhe dar prazer.
(Mesmo sem lhe merecer)...

O nome daquele homem


Como é mesmo o nome daquele homem
que bateu na janela, à meia-noite,
me dizendo que queria entrar?
Ele tinha uma estranha coroa,
e um sorriso tão doce
que me deu vontada de chorar...
Como é mesmo o nome daquele homem
que nada me pediu, e sorriu,
e espalhou rosas e espinhos
quando começou a me falar
que me amava e esperava
que eu fosse lhe encontrar
toda noite, no jardim
debaixo do jasmineiro
porque lá ele ia estar
me esperando, e trazendo
um novo jeito de amar?
Como é mesmo o nome daquele homem
que disse para eu me preparar,
porque um dia ele ia voltar
e , dessa vez, me levar
para longe, outro lugar,
onde eu ia gostar de ficar?
Como é mesmo o nome daquele homem,
e onde é que ele foi achar
tanata serenidade
no seu modo de me olhar
e onde é que ele foi buscar
tamanha bondade
na forma de me falar?
Como é mesmo o nome daquele homem
que deixou tanta saudade
depois que foi viajar?...

terça-feira, 3 de junho de 2008

Amor imperfeito

Amor é o presente, por inteiro,
quando se doa ao amado,
o corpo, a alma, o dinheiro.
Amor começa no susto,
na paixão tão instantânea,
que vai perdendo, no tempo,
a magia que antes havia.
Amor é a falta de juízo
que empurra opostos na cama,
e não sustenta, como devia,
a imagem de quem se ama:
aquele ser adorado,
e, depois, tão desprezado.
Amor é um sofrimento
profundo, doído, horroroso,
que transforma em um fantasma
aquele ser carinhoso.
Amar é um sofrer calado
é chorar até cansar,
é sair de porta afora,
às vezes, querendo ficar,
sem saber pra onde ir,
sem saber onde chegar,
sem saber o seu lugar.
É a soma dos problemas,
é a divisão de bens,
é aquela calmaria,
que transforma o ser amado
em uma doce criança,
mas é, também, a baixaria
que assusta a vizinhança.
Assim é o amor humano:
egoísta, imperfeito,
possessivo, ciumento,
mentiroso, doloroso.
Amor que arrebenta o peito,
vai e volta muitas vezes,
e ilude nossa vida,
por muitos e muitos meses...

O fio da meada


A meada fica lá, na gaveta, enrolada.
Não se sabe onde começa, onde termina,
não se sabe de nada.
Tem começo, e tem fim,
bem escondidos.
Eu também me sinto assim:
uma meada enrolada.
Para chegar onde estou,
onde tudo começou?
Qual a mão que me enrolou?
Que trabalho, puxar o fio!
Ver, em perspectiva, o fio reto, completo,
o fio da nossa vida.
Um dia, depois do outro,
como tudo aconteceu,
quem viveu e quem morreu,
como chegamos onde estamos.
Necessitamos de estímulo para agir,
ou de sofrimento para progredir?
Vivenciamos os sentimentos,
sem culpas ou ressentimentos?
Abrimos portas a novas percepções,
sem traumas ou confusões?
Deixamos fluir noites e dias,
demos adeus às vãs filosofias,
conquistamos a sabedoria?
Finalmente, com serenidade,
alcançamos a maturidade?
Para responder sim, ou não,
temos que mexer na meada,
que fica quieta, guardada,
nossa meada enrolada.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O meu amigo budista

-"Só se perde o que se tem".
è a frase preferida
do meu amigo budista
(que eu não quero perder).
Zero com zero dá zero,
palavras do matemático.
Mas o grande catedrático
não me explica os números negativos,
(de uma forma que eu entenda).
É nada ter, e ainda dever?
Eu não entendo nada de contabilidade,
falta-me habilidade.
Devo um bocado, e vivo trabalhando,
trabalho por necessidade.
Por minha vontade,
viveria descansando,
de preferencia, na praia,
somente me bronzeando,
caminhando, filosofando...
Somos um povo com historia
que ninguem guarda na memória.
Somos por demais surrealistas.
De bom, só fabricamos artistas?
Fala, Cabala!
Vou perguntar ao meu amigo budista
se Buda, como Nostradamus, previa
ou se só filosofava.
Que será que Buda escondia
em sua sabedoria?
Qual a sua profecia?

Tentação

Satanás bate na porta.
Insolente, viro as costas.
-Vou lhe vencer, eu lhe grito.
- "Você vai ver, ele diz,
o que é o paraíso.
Eu tenho aqui um presente
que vai lhe deixar contente".
E Satanás recomeça,
me tentando como nunca:
- "Vou lhe mostrar o retrato
de um homem bem bonito,
ele ficou todo aflito,
ele gostou de você".
E eu fico curiosa.
Mas que coisa horrorosa
é a tentação, meu irmão...
Eu vou do quarto pra sala,
espiando minha cara
dentro do espelho redondo,
a cabeça , como um gongo,
ressoando, azoada.
Satanás me olha e ri,
e pergunta, satisfeito:
-"Você vai andar direito,
não vai morder a maçã?"
Um suspiro corta o peito.
Ah! Maldição...
E me mostra seu retrato.
Satanás sorri, gaiato,
um sorriso debochado,
com seus chifres espetados,
abanando o imenso rabo.
-Satanás, saia daqui,
deixe de seu frenesi.
Pecados na minha mente
podem me deixar doente...
Mas Satanás fica sério,
todo cheio de mistério,
e, calmamente, pergunta:
-"Gostou do que escolhi?
É todo seu, se quizer.
Você ainda é mulher,
e eu sei que você gosta...
O retrato é só amostra"...
E manda que eu repare
no seu jeito abusado,
no olhar de sedução
que ilumina seu rosto.
Ah! que degosto!...
Satanás desaparece,
enxofre prá todo lado .
Fica um gosto amagurado
de amor contrariado.
Acendo dentro de mim
a luz vermelha que pisca;
"PROIBIDO ULTRAPASSAR"
Eu apago esta faísca
(não quero me machucar).
Tem coisas que matam mais
do que um tiro na testa.
Renuncio à nossa festa,
quem sabe, um dia, talvez?

Mover montanhas

Por mais que tentemos,
ainda não moveremos
montanhas.
É muito índio, Portugal e África
embaralhando os gens que temos.
Faltou-nos a árabe Espanha,
dos mouros venezianos,
com a sua disposição sarracena
de cortar o mal pelo pescoço...
Faltou-nos a fleuma britânica,
o perfeccionismo alemão,
o intelecto frances,
a disciplina do Japão.
Faltou-nos tudo isso, e muito mais.
Temos por demais coração.
Faltou-nos as exigências,
o controle da situação.
País colossal, continental.
Temos barcos nos igarapés,
corridas citadinas de muitos pés,
caminhoneiros e pistoleiros
nas estradas esburacadas.
Já temos montanhas,
podemos vê-las.
Faltam-nos as manhas
para movê-las.

A imensidão do tempo

Balança, rede, balança,
o corpo que já foi ligeiro.
Os sinos das seis horas já sabiam
da disposição do corpo, companheiro
das caminhadas dos dezoito anos.
Os sinos das seis horas já tocaram, e ecoaram
ao fim da madrugrada sonolenta.
Aos dezoito anos, o tempo tem outro valor.
Agora, há o tempo interior
e dele não nos queixamos.
O tempo, avança sempre, descuidado,
quem sabe, de si mesmo já cansado,
devolvendo à terra outra semente.
O tempo, sempre o tempo, bem treinado,
supre a Natureza, em sua dança,
de outro amanhecer, outra criança,
e, assim, a vida vai seguindo em frente.
Tempo-maestro, que a tudo vai regendo.
Tempo-poder, que a tudo vai moendo.
Eu queria, do meu tempo, só um tempinho
em que eu pudesse ficar sem pensar,
nem sonhar, nem meditar, nem precisar
de compreensão ou de carinho
(só um tempinho)
em que eu pudesse, descuidada, acompanhar
(só um pouquinho)
a imensidão do tempo em seu caminho....

domingo, 1 de junho de 2008

Aquele anel colorido


No canto escuro da mente
não se fala o que se sente.
Sensação de desconforto
e de um sorriso morto
se eu penso em seu sumiço.
É duro se preparar
para o que não vai durar.
É igual fazer a cama
e não poder se deitar.
Somos passáveis. Todos passamos.
Passarei, passaremos, passarão.
Sejamos pássaros,
voemos juntos, a mão na mão.
Por favor, vai me buscar
aquele anel colorido
que Saturno traz no cinto.
O amor perfuma o gesto.
O amor abranda o traço.
O amor aperta o abraço.
O amor escolhe o jeito.
Há amor? Tudo é perfeito....

Transformação


Um dia, o brasil mudou.
Eu mudei, eu renasci,
eu vi coisas, e vivi,
outros mundos decobri.
(O mundo do meu outro lado,
até então, calado).
Aceitei encomendas de sonhos
e rumei para a Antártica:
outros polos conheci.
Outro Norte, sem mão forte.
Outro Sul, bem mais azul.
Classe meédia brasileira,
mais esperta, mais ligeira.
Saí do sobrado, saí...
Agora, sou mais conteúdo,
não conto dinheiro miúdo,
Não!
Em vez de soluços, descubro
um abecedário de soluções
nos recantos da mente
não mais ausente.
Custou e doeu,
mas valeu!...

Quereres

Eu queria mesmo
ser o ultraleve do seu sonho,
planador sem dor...
Eu queria mesmo
ser a máquina do seu saber,
(não precisar ver para crer)...
Eu queria mesmo
ser o mito eletronico do seu video,
magia que irradia...
Poderia até ser princesa, acrobata,
estrela, diva, musa paranóica,
roqueira, cintilância, glória...
Mas não fui nada disso, em nosa estória.
Confusa, como ser musa?
Difusa, semifusa, infusada namorada,
mas vital, íntima, assanhada...
Irmâ, guerreira, freira.
Pisando em ovos,
deixo o traça do meu bagaço
em tua boca estendida.
Varro, com alegria,
a ditadura, e sua cara dura
de sua alma ferida.
Morro de vontade de dar uma olhadinha
no mapa do seu futuro.
Ainda a cara no muro?

Outras retinas


Cercada pelo silêncio,
medito.
Por que penso tanto? (penso)
e penso a passos lentos.
Tanto que tento,
e não consigo
um alento.
E, no que medito, reflito:
há sons difusos, lé fora,
e aqui dentro, cortinas.
Há sol brilhante, lá fora,
e aqui dentro, rotinas...
Eu vou procurar lá fora
obrilho de outras retinas...

O professor de desejo

O meu professor de desejo
ensinou-me, sorrateiro,
tudo que é espécie de beijo:
assim, assado, ensopado,
beijo bom, beijo assanhado,
e beijo bem embeiçado,
beijo longo, arrepiado,
beijo cuspido e escarrado,
e o melhor beijo, o beijado
macio, desenfreado,
sem breque, sem segurança,
um grande beijo roubado:
começa na minha trança,
termina ¨Deus sabe aonde¨...
E o beijo mais sussurado,
beijo falado, gritado,
beijo úmido, molhado...
Ah, meu doce professor,
meu carinho, meu amor,...
Nós só ficamos no beijo
p"ro resto, faltou coragem.
(Para o resto da viagem).
Ele partiu, se sumiu,
me repartiu de saudade.
Formiguinhas pela bôca,
me deixou a alma ôca.
Fiquei triste, que maldade...

Segurança

Segurança
é uma palavra no dicionário
(e nem verbete ela é).
Por isto, a novidade.
A novidade tem cara, músculos e voz,
é fugaz, gentil, veloz,
pintou, desapareceu.
Novidade, é criatividade.
Segurança é necessidade.
Eu fico com a primeira,
que tudo o mais é besteira.
Como fruta perecível,
meu desejo é impossível:
a permanência na ausência,
categoria. (E cabeça fria)...

A irmã azul


-¨Eu não sou uma pessoa azul¨,
dizia minha irmã,
olhando vitrines,
distraidamente...
Para depois, sorrindo, observar:
sua blusa azul; sua saia azul,
nos espelhos onde se olhava,
detidamente...
Ela fugiu do marasmo de sua vida;
tentou fugir dos defeitos,
dos amores imperfeitos,
de uma vida, digamos, cinza...
Foi para a América do Norte.
E, tentando ser forte,
por lá ficou; por lá se arranjou.
Morava mal; comia mal.
Dormia mal? Não sei,
nunca saberei.
Mas as coisas melhoraram,
e ela sobreviveu.
Outros países, outros amores,
quem sabe, flores?
Conheceu.
E hoje, européia, total inglesa,
de cama e mesa,
desfaz-se em lágrimas
toda vez que retorna
por estas bandas
e, depois, volta, para uma vida morna,
nas terras do frio, aos calafrios...
Ô, minha irmã, é isso mesmo,
a vida é cinza, sujeita a chuvas e trovoadas,
alegre, às vezes, sujeita a trombadas,
nem branca, nem preta,
é nevoenta, é friorenta,
e isto afugenta
uma pessoa (não) azul
dessas ensolaradas terras do sul...
Mas eu estarei aqui, de braços abertos,
com sorrisos espertos,
te esperando, sempre pensando
na sua felicidade, na sua bondade, na sua generosidade,
intrigada, imaginando como foi o seu destino,
de pessoa não azul, que ama estas terras do sul...

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Raladura, trambolhão

Raladura, trambolhão,
passa, passa, gavião,
(mas nem todo mundo é bom).
Xô, galinha, sai, pintinho,
o menino está tristinho,
foi tombo, foi encontrão,
foi gente desabusada,
foi desamor, solidão,
foi fuga, foi desespero,
e foi falta de dinheiro,
e foi pé de sabugueiro,
raladura, trambolhão.
Cade os matos da infancia?
Cade gato, passarinho?
Cresceu depressa, cresceu...
Encontrou a vida e a morte,
teve e não teve sorte.
Xô galinha, sai, pintinho.
E caiu no meu quintal.
Que queda monumental!
Um circo de cavalinhos,
carrossel, montanha russa.
Arrasta a asa, pintinho,
se conserta, se endireita,
disso é que a vida é feita:
raladura, trambolhão...

Interjeições

Um ah! quando te vejo.
Um oh! quando te beijo.
Um hein! quando me chamas.
Um ai! quando me amas.
É totamente impossível
conseguir dizer adeus...
PORTANTO...
Seja puro para mim,
seja calmo, seja assim,
como um solo de guitarra
rara, seja apenas
um rapaz latino americano.
Deixe de lado
esse seu viver insano,
e o jeito de cigano...

Avó

A dona Maria do Carmo
e seus ares comandantes
marcaram meus passos infantes.
Em nada era ïnha¨...
Grande senhora feudal,
sem feudo ou cabedal.
Mas senhora, ora, ora...
Tinha sempre o mesmo visual,
tinha estilo, caráter e provérbios,
a grande senhora feudal.
Firmeza nas passadas,
carinhos furtivos,
cuidados e mimos,
inesperados, inexprimíveis,
imprevisíveis.
Tirana doméstica, ao pé do fogão.
Sonhos, de verdade, saídos das mãos,
(na hora do lanche).
Sonhos fresquinhos, feitos na hora,
sem demora,
para nosso deleite e apetite.
Para o bolo xadrez, uma reguinha,
pequenininha, milimétrica,
instrumento da busca à perfeição.
- Cadê minha regua?
nunca uma trégua
ao próprio querer,
(se é que o tinha)...
Autoritária, como podia ser
uma pessoa ignorante,
que mal sabia ler ou escrever,
ter tal poder?
Arbitrária, amava estes
mais que aqueles netos
(pena que não os netos certos).
Amava os problemáticos, descontentes.
(Talvez os adivinhasse mais carentes)...
Alguns diziam: - Como sofre, esta criatura.
Não sabiam de sua têmpera: Dura.
Sua alva figura...
Os olhos indecisos,
entre o verde ou amarelo,
o cabelo, farto, belo.
Xerifando nossa vida,
regulando asmas, namoros, e saídas.
Ah! Dona Maria do Carmo,
enviuvou e esqueceu da vida.
Xaropadas para os rins,
cataplasmas de linhaça,
banho frio, banho quente,
sinapismos para os brõnquios,
medicina, só caseira.
Avó recatada, filha ansiosa,
neta descasada, bisneta nervosa.
Mulher de antigamente:
monumento à decência,
língua afiada, chás para tudo,
bolsinha de dinheiro miúdo,
missa aos domingos,
cartomantes para as dúvidas,
aversão às dívidas,
gavetas impecáveis,
imperatrizes domésticas,
com medo de barata.
Choravam sozinhas, discretamente,
a lembrar dos maridos ausentes.
A Dona Maria do Carmo
jaz na minha saudade,
guardada no meu coração,
(às vezes sem direção)...

Cumplicidade

Minha pele tem juízo,
uma certa qualidade
viva e verdadeira,
curto circuito
de eletricidade.
Minhas palavras, não.
Passional,penso em você,
que se defende,
covardemente,
de uma paixão.
Depreciamos
o que tememos,
ou invejamos.
Crianças cegas
todos nós somos,
querendo afetos,
querendo afagos,
(mesmo que pagos).
É na amizade
que se esconde
a salvação.
Cumplicidade
faz bem à alma,
conduz à calma,
às vezes, salva...

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Amor ao Ofício


O ato de escrever
pode ser ofício,
precipício,
ou confissão.
Não rejeito nada,
(como a rosa não rejeita,
e, com pétalas brancas,
amarelas, ou vermelhas,
se ajeita).
Não rejeito as escolhas,
e nem também,
aquilo que as escolham rejeitaram,
e que, também,
já tinha sido
digno de cogitação.
Tudo o que não fiz, ou fui,
permanece intacto, intenso,
submerso,no subconsciente,
e pode, de repente,
aparecer no papel, no pincel, no céu
da minha criação.
Posso ter sido isto, e não aquilo,
posso escolher: ser ou não ser,
e esta não é a questâo.
Na verdade, posso ser tudo.
(Apenas escolho o que sou agora,
e minha sombra, rejeitada,
lanço, como resposta,
na palavra exposta.)
Desta forma, nada deixo de fora.
Preservo a amplitude,
a totalidade do meu raio de ação.
Quero ser luz, mas amo a escuridão
subjacente na personalidade.
Amo a escuridão,
o meu impulso
em direção à criação:
ofício, precipício, confissão...

Conhecer os Anjos


Em que se resume a vida espiritual?
Não se aprisiona em templos de pedra e cal
que o tempo, a chuva e o vento, fazem desabar.
Não se define na linguagem sacerdotal
cujos dogmas só fazem complicar.
Não se codifica, não se submete,
não se modifica, não se subverte.
Ao revés: permanece, enobrece.
Como vos descreverei a luminosidade
o conforto, o bálsamo, a suavidade
de conhecer a luz divina?
A sabedoria que prescinde do tempo,
e tudo preside no Universo?
A energia irradiante,
de uma forma que desconheceis,
e nem em vossos sonhos mais delirantes
sabereis?
Deixai-vos levar por vossas mentes e corações
livres de todo o mal, da maledicência,
pensada, falada, comunicada.
Deixai-vos levar pelo inescedível prazer do bem
do sempre servir, do evoluir,
do transceder o vosso círculo material.
Acreditai. E, se impossível for, imaginai,
ao menos imaginai,com FÉ e AMOR,
a grandeza da vida espiritual
em seu eterno labor,
e conhecereis os ANJOS,
em todo o seu esplendor...

sábado, 17 de maio de 2008

Sol posto

Gasta em mim o teu desejo
e depois recolhe o rosto.
Dorme, meu sol posto.
Esquece o frio o desgosto.
Bem eu te vi, passarinho,
bem-te-vi, te mereci.
Quem não sofreu? Eu sofri.
Mas, agora, já passou,
outro dia clareou.
Dorme, esquece tudo, no sono,
viajando no infinito.
Verifica a luz da treva,
E me volta mais bonito.

Amor ao vencedor

Todos amam o vencedor.
Não vencer, que horror!
Admiramos os ídolos da mídia
por ela elaborados, fabricados.
O momento da vitória nos redime
da frustação trivial, cotidiana,
e fica lá, mais adiante
suspenso e radiante,
como um alvo que alcançamos.
Por isso, só por isso, amamos o vencedor
e repugnamos, com pavor, o perdedor.
Será uma herança dos romanos?
O sacrifício do gladiador?
tudo o que não sobe ao pódio
nos percebe, solicita e pede
a caridade que negamos.
Tudo o que não tem medalhas, atrapalha,
é triste, feio, sem valor.
O vencedor, idolatramos.
O perdedor, execramos.
Será mesmo que o que não se aprende pelo amor
só se aprende pela dor?
Algum dia deixaremos de julgar pela aparência?
Algum dia, quando recobrarmos a inocência?

Aprendizado

Vou aproveitar o Carnaval
para transformar-me
em tudo o que, em mim, é mau.
Serei a assassina, a traficante, a terrorista.
Viverei uma irresponsável e irrefreável
liberdade.
Sem medos, sem culpas e sem freios,
aceitarei todas as possibilidades,
sem intermediários.
Eu, a moça reservada,
bem comportada, calada,
aproveitarei as férias
para praticar misérias.
Vou, ora se vou...
Consciente da minha mortalidade,
dela suficientemente convencida,
vou buscar esta saída,
com muita criatividade.
Vou abrir a Caixa de Pandora,
e jogar todos os horrores fora,
por meio da poesia,
que me trouxe a empatia,
que me trouxe a compreensão
dos erros cometidos no passado
que, passando, tanto dano já causou
e, causando, estranhamente me elevou
a um outro patamar,
para saltar,para mergulhar,
para sair em outro lugar,
onde nada é o que parece,
onde a aranha não tece,
simplesmente obedece
a outro comando.
E, passado, poesia e dano
formam a teia rendilhada
da manta quadriculada
com que cubro meus cabelos,
e dos ventos me protejo.
Por meio da poesia,
vejo agora o que eu não via
(quando tudo era perfeito,
e eu achava que sabia
de que átomos o amor é feito).
trouxe-me a poesia
a visão dos meus defeitos,
trouxe rosas amarelas,
manguezais, recordações,
do passado revisitado
no castelo assombrado.
E, se um dia, não houver mais poesia,
restará o Carnaval,
este imenso festival, onde tudo acaba igual...

Almas ...

Olhos, janelas da alma...
Almas nas janelas,
divagando, acenando,
diante da luz, e da escuridão.
Almas perenes, perdidas, danadas,
almas apaixonadas,
gemeas, (ou não).
Almas alertas, inquietas, insones,
desabrigadas, sofridas,
almas feridas,
feridas em vão.
Não se percebem,
não se melhoram,
não evoluem...
Almas sem teto,
almas sem chão,
almas desertas,
sem direção.
Vejo-as todas,
almas penadas,
carentes de amor
e de solução.

Tua boca fria

Fruta, truta, gruta, enguia,
tua boca fria,
gelada, parada,
ordinária, barata, sem valor,
tua boca sem amor.
Bôca felpuda, virulenta, lenta,
fel de cascavel,
deslavada, desalmada, desmedida,
tua bôca contaída, bandida,
mentirosa, perversa, corrompida,
tua boca lasciva.
Fica com ela, e bom proveito...
Tua boca, cruzes, credo,
é um esgoto,
é um pano sujo e roto,
é pura miséria, é adivinha,
é curandeira,
flecha certeira.
È sabedoria,
tua boca de fruta, truta, gruta, enguia,
tua boca fria.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Coisa alguma


A Liberdade é....solitária.
Vínculos são....armadilhas.
Pessoas são....como ilhas.
(Aluviões que se desprendem das margens,
onde antes estavam, sólidas,
antes da perda, do desgaste, do desastre).
Há momentos, em que não penso em nada.
E há momentos, em que a cabeça não para.
Mas, o que eu mais queria, era, um dia,
vivenciar a solitaria liberdade
de largas braçadas na piscina,
na piscina imensamente azul,
livre de qualquer necessidade,
livre de qualquer amizade,
sem precisar de consolo, companhia,
livre de qualquer guia.
(Em suprema e solitária liberdade).
Livre de qualquer fantasia,
até não ter mais vontade
de querer o que antes eu queria,
até me tornar uma pessoa, (mais uma),
que não quer mais coisa alguma.

Teu olhar

É um mundo, por dentro de outro mundo,
é a pétala da rosa humanizada,
é a mais perfeita indagação,
é a paisagem da nave espacial,
teu olhar...
Tão extenso,
como um imenso
oceano sem fundo,
meu bem...
É o mais escaldante deserto,
decerto,
é o vau, é o vão,
é a mais perfeita imensidão,
é o mais límpido clarão,
é a total escuridão,
teu olhar...
É fonte que não seca,
é mistério, caos, enigma,
é feitiço, é fetiche,
teu olhar...
É bom, incomum, verdadeiro,
balanço de barco,
que vai e que vem,
teu olhar...
É entrega, meu bem...

Estrada

É preciso caminhar muito chão,
palmo a palmo, purificar o coração,
para entender o mistério da ilusão.
É preciso passar pela dor,
por todo o tipo de desamor,
meditar, orar, conectar
com o irradiante Universo.
Deixar de lado os apegos,
os apetites e medos,
as paixões, os desenganos,
deixar passar o suceder de muitos anos.
Ver, ouvir, sempre calar,
reduzir ao mínimo as necessidades,
aumentar a carga de bondade.
No espaço-sem-tempo do firmamento
cada vida é um breve momento.
Túneis de luz, canais de energia,
rebrilhando, e impulsionando os seres
à finalidade primordial:
o aprimoramento espiritual
individual e universal...

Aqui, e lá fora

Aqui, e agora, aprendizado.
Lá fora, a tese de mestrado.
Aqui, e agora, os diferentes afazeres.
Lá fora, o contato com outros seres.
Aqui, e agora, o caminho, o espinho.
Lá fora, os odores de mil flores.
Aqui, e agora, o contato imediato com o mal.
Lá fora, a finalidade principal:
a vivência de um amor bem mais real,
da caridade abençoada,
concedida e auferida
como um tipo de respiração:
indispensável, vital.
Aqui, e agora, as lágrimas incandescentes,
turvas, doídas, massacrantes.
Lá fora, o bem estar comovente
de convivências inebriantes.
Aqui, as ambições inconfessáveis,
as paixões não resolvidas.
Lá fora, a fratenidade
de inúmeras mãos amigas.
Aqui, e agora, a prisão.
Lá fora, a libertação.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Idas e vindas

Os berços acolhem
o retorno ao penoso aprendizado.
Os berços não escolhem.
Desde que a vida despontou, um dia,
ou uma noite, não se sabe,
nesta espaçonave chamada Terra,
aos berços voltam,
sublime e fera,
em outras formas,
entrelaçadas.
Poder e ouro, esgar e sangue,
que a vida irmana.
Sem privilégios viveremos,
frutos de escolhas,
sob o firmamento.
E suaremos nossa perplexidades,
e exudaremos nossas vaidades,
tentando impôr opiniões e preferências,
e normas de conduta,
esquecidos das glândulas pituitárias,
da carga genética,
dos fluidos hormonais.
Por que não podemos nos deixar em paz?
Por que não aprender a humildade,
o socorro da alheia necessidade?
Quantas voltas ao berço custarão
finalmente, agirmos como irmãos?

Importancia do amor

É verdade
que o amor
sempre sabe o que fazer,
e não hesita em se comprometer?
Um homem e seu cavalo,
um homem e suas ideias
são os ingredientes
de uma revolução?
Só a gratidão
faz a revolução.É o suficiente.
Há um caminho encantado,
em meio a vales e sombras.
èle só é percorrido
pelo amor esclarecido,
pelo amor vibrante.
Pelas esquinas do Tempo
todos vão e todos voltam,
galopando pelos campos,
corcéis de coragem e de sangue,
as espadas apontadas,
prontas para a matança.
Mas, o amor esclarecido
é o mistério pulsante,
que alimenta os cavalos,
o fabricante de espadas,
e o cavaleiro andante.
Pelas esquinas do Tempo,
o amor cumpre o seu ofício:
mata a fome, a sede, e sacia,
traz a chuva, que alivia,
traz a certa companhia.
Só o amor é importante.
Só o amor vence o tempo, e avança
até o encontro com a alma forasteira.
Só o amor faz nascer a lágrima tépida,
benfeitora, curadora.
Até no coração mais empedrado
o amor racha paredes, lança rêdes,
em direção aos vorazes peixes da maldade
e os captura, todas as vêzes.
O amor une norte e sul,
e traz, num repente, a eternidade,
entrevista na madrugada azul.
O amor canta e acalanta,
faz dançar, faz rir, chorar,
o amor e sua luz solar,
como um raio deslizante,
faz a retina brilhar,
e o coração mergulhar
em poças de mel brilhante...
Só o amor éimportante.

Irmã

Ainda que eu me cercasse de palavras,
apascentadas como reses, no curral do meu medo;
ainda que eu me protegesse com palavras,
recolhidas como juncos, no pântano da minha dor,
ainda restaria a tua presença,

imaterial, consubstanciada nos meus pensamentos.
Minha irmâ...
Mergulhada na névoa da esquina imprecisa,
na tênue neblina pousada nos telhados.
Aqui, ali, adiante, materializada nas minhas lembranças.
Forma perfeita e perene, na memória,
em instantes fotográficos, retratos na parede,
na sólida parede da família esfacelada.
Minha irmã...
Tua sêde, tua insegurança, tua aliança
partida.
Minha irmã querida...
Tua sólida beleza, teu sorriso, teus afazeres,
tua presença, sempre tensa,
e marcante.
Teus problemas, teus desejos, teus dilemas,
teu amor, tua carência,
cercados, pelo eterno vigiar da maledicência.
Minha bela irmã...
Um brilho de fogo-fátuo, a casa desarrumada,
o canto de mil canários,
os apetites, vários...
Foi demais, a falta de rumo,
desarrumou-se, saiu do prumo.
Como na casa incendiada,
nada ficou de nada:
nem mobília, nem baixelas,
nem as obras completas
do poeta inglês.
Só a dor ficou.
Ainda que eu garimpasse as palavras no dicionário,
e as comparasse, classificasse, e ordenasse,
ainda assim, não saberia o que dizer
diante do fato incontestável da tua morte;
ainda assim, pouco eu iria entender
dos armários abertos,
das gavetas expostas,
dos azulejos manchados,
do sangue espalhado,
do ato pensado, ensaiado, testado,
repetido, obssessivo,
diante da sufocante percepção
de uma vida sem saída, sem direção,
que não valia a pena ser vivida,
(na tua concepção).
Minha irmã, que opressão,
que dia de horror,
que desamor,
que agressão,
àqueles que tanto te amaram,
e, desorientados, ficaram,
perplexos de dor.

Investigando o eu adormecido

Além, muito além do espelho,
vejo o reflexo de uma fantasia.
Vejo tudo claro, menos o que os outros vêm,
e que, realmente, compõe o meu dia a dia.
E tudo o que eu gostaria
é que esta via
de conhecimento
fõsse menos escorregadia.
Quem bem me conhece
é quem mais padece
da minha timidez não revelada,
da tagarelice , que não conduz a nada.
que confunde, embaralha, surpreende.
É uma viagem, cheia de dificuldades,
o auto-conhecimento.
È um padecimento.
Que grande amolação
esta perpétua investigação.
Percebo que os outros me percebem,
entendo que não há esconderijos.
O que não vejo em mim, vejo nos outros,
vejo os traços que em mim eu não desejo.
(E, quanto menos desejo, mais claramente vejo).
Quero ser bom, quero ser belo, quero ser perfeito.
Nego, no ego, o monstro adormecido.
Nego a inveja, a falsidade, nego o mal feito,
e, pior: nego o amor, como imerecido.
Tanta energia desperdiçada
se fôsse corretamente canalizada
me faria viver mais sabiamente.
Minha sombra, meu duplo, meu dragão,
cospem fogo, no corpo emparedado.
Quero uma trègua, nesta guerra santa.
Quero entender, e depôr as minhas armas.
Quero tirar esta armadura tão pesada.
Quero, no espelho, ver o que os outros vêm.
Conhecer-me, aceitar-me, ter prazer,
descobrindo, em mim, um nove ser:
bom ou mau, belo ou horroroso,
como um dado, cheio de lados,
e, mesmo assim, digno de ser amado.
Nada de máscaras, cortinas, referenciais,
(Não quero pouco).
De mim, quero muito mais...

domingo, 27 de abril de 2008

Batman, socorro!


Não tem água no fundo do poço,
não tem som no grito da ovelha,
não tem luz no olho do cego,
não tem dia no solo da lua,
não tem teto no meio da rua.
Mas nem tudo está perdido:
há estrelas, firmamento,
há flores, há esperança,
há o cachorro e seu osso.
Valei-nos, Batman!
Vem nos salvar!
Do assalto, do rapto,
do bruto estupro,
das guerras, dos terremotos,
das enchentes, dos eclipses,
das bestas do apocalipse,
dos jornais e da tv.
Valei-nos, Batman!
Confiamos em você.
Chama a tribo dos heróis:
chama Ben-Hur, Lancelote,
O rei Arthur, Alexandre,
César e suas falanges,
Demétrius, Gladiador,
Ulisses e Menelau.
Valei-nos, Batman!
Homem morcêgo,
encarnação do bem trevoso,
Salvai-nos de todo o mal!
Temos trânsito, baile funk,
festa de largo, arrastão,
temos o linchamento,
matando a qualquer momento,
temos a crueldade, o crack, a cocaína,
temos a brutalidade,
o irmão que mata irmão,
e, para os meninos vadios,
sem chance, sem ilusão,
perdidos pelas esquinas,
temos a vil chacina.
Socorro, Batman, socorro,
nas Cidades e no morro,
gente é tudo igual.
Por fim, não posso esquecer,
salvai-nos do Carnaval...

Rainhas

Eu queria que a rainha da Inglaterra,
a mais rica e aristocrática das rainhas,
tomasse chá comigo.
Eu iria expor as imensas necessidades
do meu povo brasileiro.
Será que é muita vaidade?
Tenho certeza que a distinta senhora
iria se comover e ajudar
o meu povo brasileiro.
É bem verdade, que , no passado,
seus bisavós invadiram e saquearam o meu país.
Isto é o que a história diz...
Mas, faz tanto tempo...
Estamos em outro momento.
Vou apelar à rainha da Espanha,
atarefada com o casamento da Infanta.
A rainha da Suécia, me daria atenção?
Sua realidade é tão outra,
haveria chance de consideração?
As mulheres são um momento sublime da Criação.
Por isto, vou apelar às rainhas.
Mulheres tem ciclo menstrual,
podem entender o problema visceral
da fome, da miséria,
coisa feia, triste, séria.
Os reis estão sempre atarefados,
insones, diante das finanças,
das guerras, das revoluções,
dos tremores da Bolsa de Valores.
As rainhas, ficam às voltas com as crianças,
com todo o respeito,
são elas que dão o peito...
Temos que instruí-las e aporrinhá-las,
para que se preocupem com a miséria,
coisa feia, triste, séria,
e que também é mãe,
de um berço que não balança.
Ah! Os tristes filhos da miséria!
Ninguém quer ver, quer olhar!
As rainhas, a qualquer momento,
podem sofrer a tragédia
de se transformar em reféns da miséria.
Rainha fútil e bela, perdeu a linda cabeça,
na Revolução Francesa.
E tudo, por causa do pão,
aquele, que, quando falta,
todos gritam, e ninguém tem razão.
Será que as rainhas sabem
onde fica o Muro das Lamentações?
Dizem que é em Jerusalém...
Será que não fica mesmo no coração
dos que nem comida têm?

Ancestrais portugueses

Esses cigarros balineses,
esses ancestrais portugueses,
cheios de melancolia...
Esses conhaques franceses,
esses sorrisos, às vezes,
cheios de fantasia...
Ou amo demais, ou não amo o suficiente.
Essa mão espalmada que me toca,
esse jardim perfumado, que me evoca
a lua prateada de Alexandria...
Nunca escolho o momento certo
para dizer adeus.
De meus olhos, já não brotam lágrimas
(mas ainda gosto de fazer tudo bem devagar,
de par em par,
de preferência, olhando o mar,
principalmente, envelhecer,
tentando, em vão,
te esquecer).

Rosa dos Ventos

Vivo de expectativas, vivo,
de revoltas e doçuras.
Ser visceral, inconstante, êrmo,
não cabem, em mim, os meio-têrmos,
Não!
Cabeça fria, coração que sente,
estou, quando não estou presente,
na ausência ,sou.
Enxergo a alheia calma, leio a alma,
e guardo, resguardo, compreendo e calo.
Desvendar difícil e fácil, transparente,
segredo cinza, esfumaçado, sou.
Arco e flecha, retesada, vou.
Acerto o alvo. Ameaço. Faço e desfaço.
E no meu rastro há um clima
de claro-escuro, de luz, de treva,
e o dom do açoite, da palavra, e do perdão.
Caminhar comigo, é rede de malha,
é sorrir, chorar, festa bandalha.
Continuamente penso, me consumo pensando,
(e penso, ainda),
mas ajo lentamente,
com preparações de noiva,
cerimônias, amuletos,
goteira em cima da cama,
e sutilezas dos gatos no telhado,
olhando a lua.
Cerco, modifico, sonho.
Paciente estrategista dos meus mêdos,
a estratégia toda se desarma
no abraço ganho.
Tenho, em mim, esses recantos:
um laçarote de trança,
rebuscamentos de valsa,
e bamboleios malandros,
sagacidades, asneiras,
espantalhos, ratoeiras,
escondidos pelos cantos.
Feliz, só de passagem,
amo.(Com a cara e a coragem).
São petulãncias tímidas e quietas.
As molduras não se enquadram
no tamanho do retrato,
e nem possui quatro lados.
Meu retrato é circular,
tal como rosa-dos-ventos,
partindo de um centro único,
para todos os quadrantes,
viajante, navegante,
estrela errante,
esta, sou eu.

sábado, 26 de abril de 2008

Preferência

Porque tenho um motivo de riso
(vivo para isso);
porque tenho um motivo de surprêsa
(essa coisa têsa),
por isso, eu vivo.
Se não houvesse o susto, a surprêsa,
eu não teria esta vontade de seguir,
de ir, de deixar vir
o futuro, tão obscuro.
Então, eu mereço
todas as danças, os boleros,
os lero- leros
das esquinas.
Então, eu mereço
todas as sabatinas.
Porque amo a vida, e quero tê-las.
Porque amo o beco , o deslize,
a feira livre, o biscate,
porque desprezo o ouro, o quilate,
dos diamantes ofuscantes,
porque amo o disparate,
amo o que surpreende,
fico com a súcia,
com a sua astúcia,
e com o nosso diágolo entre paredes,
para saborear, sovinamente,
sua luz seu extra, seu arremate.

O que fica

Todos viverão a própria vida;
uns, serão lembrados no futuro;
outros terão sonhos, pesadelos,
e não haverá porto seguro.
Todos necessitam de coragem
para viver seu destino intransferível.
Uns semearão flores onde fôrem;
outros, somente espalharão o mal.
O desafio mais difícil será, sempre,
o próprio crescimento pessoal.
Passarão as homenagens à beleza,
o poder, o luxo, a grandeza,
passará até o desamor.
Ficarão as estrelas, o firmamento,
o inesquecível perfume de uma flor.
(A flor imarcescível do amor).

sábado, 19 de abril de 2008

NAVE ESTELAR


Na diversidade do mundo em que estou,
tudo é perfeito, pleno e completo.
Deus opera. Por SEU intermédio
ciclos de vida se abrem e se fecham.
Nada é acaso. Todo é propósito,
e evolução.
Tudo segue seu rumo, seu ritmo, sua rima.
Preparamo-nos para a vida mais completa,
fora deste ciclo.
Preparamo-nos para a amplidão
de outras esferas.(Que nem esferas são).
Mas que existem,
sem palavras para descrevê-las,
deduzi-las, defini-las, conhecê-las,
não na nossa visão.
Infinitas esferas, suntuosas, belas,
luz e amor, na mais perfeita pulsação.
A Luz Divina provê, determina e opera, e tudo é fusão.
Não há paradoxos ou oposição.
A suave nave estelar navega.
Nossa Terra.
Em seu bojo, a celeste herança:
matéria, alma etérea,
em ordeira procissão,
em circunvolução,
alternando idas e vidas,
mortes e vidas,
a ordenada aventura dos planetas,
em explosão,
e folhas, que não se movem sem determinação.
Não existem milagres no Universo,
é sempre a mesma orquestração.
Ao maestro, a batuta.
Ao poeta, a labuta
desta anunciação.

Filhos

Que faremos, jamais,
quando os filhos nos chegarem,
e sempre, para sempre, nos amarem?
E nos deixarem?
E herdarem:
nossos olhos, nossas mãos,
nossas perplexidades?
Que faremos, jamais,
com a mobília e os ideais fora de moda,
moídos pela roda
do tempo, da fortuna?
Que faremos da casa abandonada,
de paredes rachadas?
Que faremos, jamais,da compreensão
que cada um deles vai ter do seu próprio chão:
para sujar, para lavar, para pisar,
e amaldiçoar?
Que faremos, jamais,
com a nossa patética proteção,
risível, previsível,
dispensável?
Os filhos chegam e se vão,
deixando ainda quentes os berços onde dormiram,
e debruçados e insones, ficamos,
por incomensuráveis anos...
Temos que desligar o botão da emoção
aos poucos, devagarinho,
abaixar a corrente de carinhos,
bem de mansinho,
e mantê-los perto, baixinho,
dentro do coração...

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A oficina do poema

Minha voz só tem valor na medida em que ressoa
como um tambor tribal, na mente de quem lê.
UM ELO, APENAS, FEITO DE POEMAS,
QUE REPERCUTEM NA SENSIBILIDADE ALHEIA.
A oficina do poema não é só feita de livros,
que permanecem inertes, em quieto equilíbrio,
até que alguém os perceba e leia.
A oficina do poema é feita do aço das experiências
que trazem aprendizagem, (e benevolência)
no trato com o poema, e, sem dilema,
com a própria vida, de uma forma geral,
com tudo o que ela tem, de belo ou de banal,
como a descoberta de um novo Graal,
prestes a se espatifar da Torre de Pisa,
e salvo, no último momento,
resgatando o nosso sentimento.
Todo o nosso presente, de alguma forma,
estava escrito lá, nos velhos pergaminhos.
Em nosso interior, a cada vida,
já vêm impressos os caminhos
que apontam o futuro redentor.
As experiências, os desastres que sofremos,
têm seus desdobramentos, abecedários,
consequências, conclusões.
As perdas e os desastres sempre trazem soluções,
(são cartilhas de aperfeiçoamento.
São erráticos, didáticos, democráticos,
na medida em que a todos, indistintamente, alcançam.
Ai de nós, se não fossem os desastres,
é certo que não haveriam mudanças
que nos levam a outras direções.
O aprofundar dentro de si mesmo,
para o poeta, resulta, como por milagre,
em uma grande libertação do pensamento,
e, quem sabe, à apreensão do conhecimento
dos destinos espirituais da humanidade.

Ressurreição

Acorda o faraó do seu sono profundo
de não sei quantos séculos de torpor
O que ele percebe, desolado?
Mudanças incompreensíveis no seu mundo,
não há vestígios do antigo esplendor.
Nem múmia, nem tesouro, tudo acabado,
saqueado, levado por ladrões.
Em lugar de súditos ou escravos,
boquiabertos turistas saxões.
Sumiram os cem filhos, as esposas,
o ouro, as jóias, os milhões
de prerrogativas do total poder.
Difícil de crer, de entender.
Nem Osíris o pode socorrer.
Percorre o faraó os subterrâneos
da sua nova vida, imaterial.
O que ele vê?
Uma insuspeitada liberdade de ação
Surpreso, verifica o faraó
que da parafernália dos bens materiais
ele, agora, não necessita mais.
Sente-se bem melhor.
De uma certa forma, está maior
do que quando reinava, no Antigo Egito,
que, aliás, não existe mais.
Alegra-se o faraó:
há muito o que fazer na nova morada.
Sem saudades do fausto anterior,
prepara-se para servir o verdadeiro Senhor
e voltar à vida, como obscuro professor,
na mesma aldeia onde antes reinava.

domingo, 13 de abril de 2008

Simplicidade


A simplicidade
é o maior tesouro que existe no mundo.
Simples é o caroço dentro da fruta.
Simples é o seu olhar de poço sem fundo.
Ser simples é uma alegria,
é nunca estar de alma fria.
A simplicidade tudo resolve.
Até a tristeza dissolve,
diante de um sorriso simples.
O próprio Universo,
qeu parece ser complexo,
tem lá o seu próprio nexo,
que se repete simplesmente,
imutável, inexoarável, diariamente.
As coisas da Natureza,
e sua imensa beleza,
são eternamente simples.
Estar no colo de quem se ama,
é de uma simplicidade natural
(não existe nada igual).
Amar, nutrir, conservar,
são simples na sua essência.
Existe coisa mais simples,
do que se ter paciência
com quem nos aborrece?
Coisa fácil.(Mas tão difícil...)
Simplicidade é como o ar,
cabe em qualquer lugar.
Ser simples é ser singelo,
é abandonar o flagelo do egoísmo.
Simplicidade e singelesa,
não diferem em beleza:
São quase que como irmãs.
O que é simples, sem requinte,
sem volteios, sem bobagens,
todo mundo compreende,
aplaude e reconhece.
Bem simples é a roupa no varal,
ou o cão de estimação,
dormindo no quintal.
Simples é o pão nosso de cada dia,
e, principalmente, se viver em harmonia
com o que sempre se quiz:
ser, simplesmente, feliz.

sábado, 12 de abril de 2008

Abissus


É um mar de segredos inconfiáveis
minha alma,cheia de luz e de sombras,
sombras nas quais não penetro.
É um rio cheio de pedras,minha alma.
Nos escuros da minha alma
estão os choros da infância,
os medos,os pesadelos,
os sustos,a culpa incômoda
de que me penitencio.
São grilhões da alegria
no meu corpo hospedeiro
os segredos empilhados,
escusos,irrelembrados.
(Meu perigoso tesouro).
Minhas sombras abissais,
cheias de peixes sem olhos,
cehias de seres sem rosto,
cheias de denso carvão,
cheias de combustão,
de energia,
da propulsão que me empurra
a fazer exatamente,
tudo o que eu não queria.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Poemas...




Aqui, poemas.
De todos os temas
e tremas
e tremedeiras
de panico...
Guerreira,
não me entrego.
Nego:
o frio,
a fome,
o cansaço,
a solidão.
Mas tudo isto existe
e dói imensamente
e, mais que tudo, dói
a ausencia de compreensão...
Eu me contento com pouco. Quem sabe, um dar a mão?
Aqui, poemas. Em desordem.
Parte visceras,
parte ilusão.
De tudo um pouco.
Um pouco da história pessoal,
um pouco da vivencia casual,
o bem, o mal,
mistura de luz e sombra ,
em partes, talvez, iguais.
E poemas, no papel,
para que não fujam mais...